segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A sorte de pegar uma Hepatite C


   Sempre fui de ver o lado positivo das coisas. O mais bonito, o melhor. Ficar produzindo energia negativa, acumulando rancores, ódios, medos e outros maus sentimentos só nos detonam, nos colocam para baixo.
   Como diz o meu amigo Padilha, o mundo é mental! Se pensas positivamente terás resultados positivos! O contrário...é o contrário!
   Quando parei de beber, me preparando para iniciar o tratamento de combate ao Flavivírus, levantei o assunto com todos os amigos. Queria ouvir opiniões sobre a doença, sobre o tratamento e principalmente como eles encaravam uma enfermidade que ainda hoje, enfrenta muito preconceito social.
   Pesquisas revelam que um grande percentual de pessoas não conseguem matar o vírus porque sofrem preconceito, escondem a doença, se sentem discriminados, acabam ficando deprimidos e consequentemente com as defesas baixas. O organismo não reage aos medicamentos e aí...é "caixão pro Billy".
   Hapatite C mata mais que Aids. Aliás, Aids não mata mais, Hepatite C, mata! Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 3% da população, ou seja, mais de 170 milhões de indivíduos estão infectados pelo vírus da hepatite C. No Brasil, mais de 3 milhões de pessoas seriam portadores da doença. É silenciosa, assintomática e quando se manifesta já desenvolveu cirrose ou câncer no fígado.

   Bem, falava que sou de tirar leite de pedra quando se trata de ver algo de bom em uma tragédia. E aí está um exemplo. Com toda esta reviravolta que a minha vida deu em função da doença acabei descobrindo muitas coisas que não via antes. Amigos amigos, filhos maravilhosos, a presença constante da minha neta Luisa, uma companheira fantástica, cuidadosa, atenciosa, não moralista, perseverante e, principalmente, tolerante, pois também não sou dos mais fracos!
    Se nada disso houvesse acontecido, não teria descoberto esta vida que tenho agora. Não estaria me sentindo seguro, amado e forte por saber que não estou sozinho na parada.        Quando o meu amigo Dario de almeida Prado Jr., do alto da sua rica experiência no tratamento vitorioso de um câncer, me falou que seria uma ótima fase para refletir sobre a minha vida, eu, provavelmente já irritado com a abstinência da bebida, tomei a declaração do Dario como algo muito "cristão", como se eu tivesse que refletir sobre as cagadas que fiz na vida e todo aquele papo moralista de culpas e perdões que os pobres de espírito adotam quando levam uma ré.
    Nada disso! Agora entendo o refletir do Dario. Sem dúvida alguma que com uma total mudança de hábitos e comportamentos, um mundo diferente seria percebido pelos meus olhos e mente. E esse mundo é maravilhoso! Estou louco para curti-lo com uma tonturinha nas idéias. Deve ser mais maravilhoso ainda!
    O resultado disso tudo, de eu ter assumido publicamente a minha batalha contra a doença, abriu, no meu universo, uma via láctea de pessoas interagindo comigo, dizendo o que pensam, o que pensam de mim e como me vêem. E no momento que se revela este novo mundo, esta descoberta, mais uma vez eu tenho que me reinventar.
    E me reinvento!
    Sou outro, sou melhor!

Abaixo manifestações de amigos no FB:

Finalmente...uma boa notícia!

Queridos leitores,
aos que acompanham a minha batalha para vencer o Flavivírus, vírus da Hepatite C, tenho uma excelente notícia: ZEREI O BICHO!


   Meu último exame de contagem de replicação do vírus deu ZERO. Em três meses de tratamento consegui eliminar o bicho que estava comendo o meu fígado.
   Nos últimos tempos não tenho escrito muito no blog devido aos efeitos colaterais dos remédios que tomo. São 17 comprimidos diários de Ribavirina e Boceprevir (antiviral) e uma injeção semanal de Interferon. Estou a 9 meses sem tomar bebida acóolica. Uma merda!
   Bem, os devastadores efeitos colaterais destes remédios e a minha batalha para derrotar o vírus já descrevi aqui no blog. A náusea, dores no corpo, falta de concentração, irritabilidade e, principalmente, a depressão fizeram com que eu diminuisse consideralvelmente o meu ritmo de trabalho e minha produção jornalística.
   A maior batalha, sem dúvida, está sendo comigo mesmo. Conseguir racionalizar e separar os efeitos dos remédio da realidade é trabalho para mamute! Porém, tudo isso tem o seu lado positivo. Todo esse sofrimento, abstinências, falta de emoção, sensação de mundo acabado, acabou me revelando os melhores amigos e os que realmente se importam comigo.
   O impacto da notícia de que teria que fazer um tratamento urgente para Hepatite C - o bicho já havia necrosado parte do figueiredo - foi devastador. Foi aquela divisão na realidade. Tudo mudou a partir daí. Em primeiro lugar, a vida maravilhosa de festas, bebidas, nigths...enfim, a vida louca que adoro, foi para as cucuias.
   Tive que me enquadrar num modelito disciplinado que só de pensar me dava ojeriza. Me enquadrei! Li tudo a respeito da doença, do tratamento, das drogas químicas mais modernas e...fui à luta!
   Bem, parece que eu sou o cara, né! Não, eu sou apenas o objeto de uma situação maravilhosa que se criou a partir da trágica notícia da doença: a minha família reagiu em bloco, afetuosa e pró-ativa.
   Partimos unidos para a execução de um plano mortal contra o Flavivírus. Os cuidados com a minha alimentação, com os horários exatos de tomar os medicamentos e ouvidos disponíveis para ouvir minhas lamúrias fizeram com que ficássemos todos mais próximos.
   As relações entre nós, pais, filhos, irmãos e sobrinhos se estreitaram a passaram a ser uma prática diária na execução da estratégia mais apurada para resolver aquela situação.
   Foi perfeita! Deu Certo! Três meses de tratamento e conseguimos eliminar o Flavivírus do meu organismo. Tenho ainda mais três meses de tratamento, mas agora já sinto os efeitos colaterais mais amenos e até tiro um sarrinho deles, às vezes.
   O que poderia ter sido o momento mais terrível da minha vida acabou sendo o melhor já vivido até hoje. Por incrível que pareça, estou vivendo a melhor de todas as vidas. Na contabilidade de fim de ano, a Gisa, eu e nossos filhos realizamos tudo o que havíamos nos proposto. Desde vencer vestibular na Federal a formaturas e empreendimentos empresariais.
   Estou triste mas estou feliz! Muito feliz! Triste por conta dos remédios, da química que me deprime, me deixa paranóico e irritadiço. Mas já sei que esse não sou eu, são os remédios, então que se fodam! Dentro de três meses voltarei a ser eu mesmo. Alegre, otimista, emocional, amigo dos amigos e pronto para novas aventuras. Desse Canga, às vezes, chego a sentir saudades!

Crônicas e matérias sobre o combate à Hepatite C. Leia aqui!

*Parceiros fundamentais nesta luta: meu médico, Paulo Glavam, e toda a equipe do PAMMI do Hospital Nereu Ramos: Rochele, Magali, Poliane, Viviane, Taise, Andrea, Sheila e o Chico!