sábado, 6 de julho de 2013

Sobre a vida e o tempo


   Desde a interrupção do tratamento de combate à hepatite C, sexta-feira 3 de maio, a minha vida deu outro salto. Em primeiro lugar pela frustração de não ter conseguido matar o Flavivírus que agora se tornou uma preocupação constante na minha cabeça.
   O segundo solavanco é sobre a nova luta que tenho que enfrentar. Criar novo cenário, planejar uma nova estratégia de combate e finalmente decidir, mais uma vez, o que fazer da minha vida.
   Me reinventar!
   A opção de ficar aguardando a descoberta de novos remédios para iniciar outro tratamento me coloca no limbo! Esperar, parece ser a palavra chave do momento. Mas esperar é muito pouco, ainda mais para uma figura inquieta e curiosa como eu.
   Usei a mais moderna terapia que existe para combater o vírus (terapia tripla). Não deu certo e não posso usá-la novamente sob o risco de criar um super vírus resistente. Aí começa um embate entre a vida e o tempo. Esperar sentado é que não vou. Enquanto espero, o Flavivírus vai fazendo o seu serviço no meu "figueiredo" e o cara é aplicado!
Estou mais contrariado que gato a cabresto!

   Tons de cinza...
   Há um ano vivo em standby. Em função da terapia me privei de festas, bebidas, noitadas, viagens..enfim, de tudo que fiz a vida toda com prazer e galhardia. Me tornei refém de um tratamento que, com os efeitos colaterais dos 17 remédios diários e um Interferon semanal, não me davam a mínima chance de ser alegre ou sociável, muito pelo contrário.    A minha vida, nesse período, permeou toda a escala cromática específicamente nos tons de cinza...50 tons foram pouco!
   Isso me deixa muito mal pois, afinal, vim aqui para divertir, ser alegre e fazer os amigos felizes!

   "Viajei"
   Irriquieto, fui a Porto Alegre consultar o "papa" do assunto no Brasil e provavelmente na América do Sul, Dr. Hugo Cheinquer, hepatologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor da UFRGS. Cheguei marcar a consulta e viajar uma semana antes, tal a ansiedade. Sem ter o que fazer fazer em Porto alegre...fiz festa!
   Nesta segunda-feira passada, lá estava eu novamente. O Dr. Hugo, recentemente chegado de um congresso internacional sobre Hepatite C, me disse que a doença é vista hoje como uma bomba-relógio, com o número de infectados que apresentam complicações podendo explodir daqui a alguns anos, pois em todo o mundo, estima-se que 90% das pessoas infectadas desconhecem que carregam o Flavivírus.

   Já tem cura!   Dois novos medicamentos combinados, produzidos por laboratórios diferentes, alcançaram 100% de cura em infectados por Hepatite C em grupos de experiências em vários países o mundo. O Brasil, pela primeira vez, ficou fora das experiências devido à demora da Anvisa na liberação de resultados de pesquisas.
   Estima-se que, em 2015, quase 100% dos pacientes serão curados! Hoje o número de infectados chega a mais de 170 milhões de indivíduos no mundo e cerca de 1,5 milhão no Brasil. Protagonista de uma pandemia silenciosa, a hepatite C é responsável por graves complicações como cirrose e câncer de fígado.
   Saber que não estou sozinho me deixa um pouco mais tranquilo, ahahahaha! Tem que rir para não chorar!
   Bem, imaginem a minha animação quando soube do Dr. Hugo que em 2015 já teremos os remédios no Brasil e aí, tá pelada a coruja! É a cura!!!!

- E como se chega a 2015, doutor? perguntei cheio de curiosidade.
- Com sorte, disciplina e aplicação! Respondeu.
   Imaginem a minha animação neste momento. Adoro um desafio!
   Sorte, se existe, acho que sempre tive. Disciplina, é tudo que nunca tive nem nunca quis ter. Porém, durante um ano de embate com o Flavivírus acabei descobrindo uma capacidade disciplinar fantástica. Parei de beber, de frequentar meus bares, mudei completamente o meu dia-a-dia, me afastei da turma, parei de sair à noite e tomei os remédios nos horários e tempos certos sem falhar um dia sequer! Descobri, em mim, um perfil germânico, provavelmente herdado por osmose da minha Gisa.
   Fui aplicado, guentei os nefastos efeitos colaterais da terapia sem chororô nem tre lê lê. O meu esperneio, provavelmente, foi aqui no blog quando relatava a minha "aventura".
    Ser lido e comentado por vocês, leitores, foi a melhor terapia!

   Previsão otimista
   Uma previsão otimista é de que a terapia salvadora chegue ao mercado norte americano em meados de julho de 2014 a um custo de US$ 150 mil. Alguém tem R$ 300 mil aí para me emprestar? Pago no final do tratamento...essa é boa, né?
   A rapidez da liberação do remédio no Brasil, após aprovada pelo FDA (órgão governamental dos EUA responsável pelo controle de medicamentos), vai depender de negociação com a "base aliada" em Brasília. É ali, no Congresso Nacional, que os lobystas dos laboratórios multinacionais "trabalham" para conseguir a provação dos novos medicamentos. Como os nossos políticos andam com um voracidade espantosa, vide apovação da PEC dos portos, é provavel que os medicamentos demorem um pouco para entrar no mercado brasileiro. Acho que tudo vai depender do tamanho da bala na agulha dos laboratórios.
   É asim que acontece...no Brasil.

   Tempo, vida e morte
   Bem, afora informações técnicas e científicas, também temos as questões éticas e filosóficas dessa parada toda. A cabecinha aqui não para de pensar nisso.
   O tempo, de repente, assumiu uma posição de destaque e passou a ser o elemento principal da discussão.
   Tempo de espera, tempo de vida, tempo de resistência para que o bicho não se agrande, tempo de aprovação dos remédios, tempo para o remédio chegar ao mercado, tempo que o vírus levará para fazer um estrago maior...tempo.
   A relação vida/tempo começou a habitar o meu imaginários nos últimos dias. É interessante ver que quando inveredamos por determinados caminhos do pensamento digamos, mais lúdico, as coisas vão tendo outra conformação. O mundo é mental...já dizia o meu amigo.
   Outro dia o amigo Emanuel Medeiros Vieira, colaborador do blog, enviou um poesia onde dizia que o tempo é curto, que a vida é breve...
   Enquanto fazia a edição do poema para postar no blog, lembrei de uma conversa que havia tido com a mãe, noite anterior, onde ela do alto dos seus 92 anos me dizia que achava às vezes que a vida era longa...bastante longa. A relatividade do tempo está na cabeça de cada um, o tempo é mental!
   Nessa mesma noite, madrugada a dentro, assisti um documentário sobre o cineasta alemão Werner Herzog. Herzog comentava alguns de seus filmes comoFitzcarraldo, Aguirre a Cólera dos Deuses, Fata Morgana
   Mas foi comentando Nosferatu que o alemão fechou meu pensamento sobre o binômio vida/tempo. Dizia Herzog, que no Nosferatu: Phantom der Nacht, seu personagem principal mantinha as características do vampiro original da obra de Bram Stoker. Sem caninos, com dois dentes frontais pontiagudos, totalmente careca, branco com orelhas enormes.
   Mas diferentemente do vampiro original, ele não representava somente o mal com sua aparência de inseto repugnante. O seu Nosferatu tinha um dilema existencial: sofria porque não conseguia morrer! Para ele o tempo da imortalidade era demasiado, jamais breve!

   Que tempo esse!
   Alguém tem R$ 300 mil aí?

Leia mais sobre a aventura. Clique aqui!

sábado, 25 de maio de 2013

Hepatite C: Flavivírus vence o primeiro round

   sexta-feira, 3 de maio de 2013
   
Com Chico e Viviane medindo a pressão. Último Interferon
   Acabo de receber o resultado do meu terceiro exame de contagem de duplicação, ou ausência, do vírus da hepatite C no sangue. O Flavivírus (vírus da hepatite), que havia sido dado como "não detectado" no exame anterior, ressurgiu com níveis semelhantes aos anteriores ao início do tratamento em 21/10/2012.

     Interrompi hoje o tratamento sob o risco de criar um super-vírus resistente.

     Não estou contente, estou puto!!!!

   Agora tenho de ficar a espera de uma nova terapia, talvez para 2014, que já está sendo desenvolvida por vários laboratórios.
   O "não detectado" nos alegrou a todos, família, amigos, médicos e enfermeiros que me acompanham no tratamento. Como sou primário nesta terapia e "pioneiro" no tratamento triplo que inclui Interferon, Ribavirina e o primeiro antiviral, Boceprevir, estava bem otimista em relação ao resultado deste último exame.

   Nos frustramos todos!

   Realmente o Flavivírus não é uma coisa fácil de se vencer. Durante esses sete meses de tratamento conheci várias pessoas que, como eu, estão na luta contra a hepatite C. Todos sãorecidivos, alguns com vários anos de tratamento, e agora tentando a terapia tripla, que só pode ser usada uma única vez.

   A carga química e os efeitos colaterias do tratamento são bastante fortes e extremamente limitadores da nossa vida. A depressão, a náusea, as febres, as dores pelo corpo, a perda de cabelo e a escamação da pele é de uma violência tal que nos exige uma força descomunal para não cair na armadilha da vitimização e da depressão.

   É como se mantivéssemos a nossa vida em stand by, à espera da cura e do final do tratamento. Todos os projetos são adiados e jogados para o futuro. A dislexia, o mal-estar físico e mental não nos deixam espaço para produzir, física e mentalmente.

   Fiz o dever de casa!
   Parei com bebidas alcóolicas no dia 15 de abril de 2012, seis meses antes de iniciar o tratamento. Me tornei uma pessoa disciplinada, cuidei da alimentação, dos horários e da frequência dos remédios (17 por dia). Comecei a dormir mais que as 3,5 horas habituais de sono por noite, li tudo a respeito da doença e me preparei para enfrentar os efeitos colaterais e não deixar que a química me transformasse em uma pessoa amarga, sofredora o que, finalmente, transformaria a vida da minha família e dos meus amigos em um inferno.
   Acho que fiquei uma pessoa melhor. Controlei a irritação medicamentosa e isso me trouxe a calma e principalmente a paciência com as outras pessoas. A falta dela talvez fosse um dos meus maiores defeitos.
   Enquadrar-me em um esquema que exige disciplina e obediência vai contra tudo que sou e que sempre pratiquei na vida. Sou totalmente anticonvencional...até a página 26, pelo jeito.
   Da proximidade, cuidado e dedicação da minha família, surgiu uma forte energia, criando um novo circulo de relação, mais forte afetivamente e com mais conhecimento mútuo.    Uma experiência fantástica que pude vivenciar neste período de tratamento.

   Complexo mas verdadeiro
   Nunca fiz nada que não me desse prazer. Sempre mantenho uma cenoura pendurada lá na frente e corro atrás para alcançá-la. Não tenho patrão e não devo obediência a ninguém.   Se oFlavivírus pensa que acabou a batalha está enganado. Vou atrás de novas armas, que já existem e estão sendo testadas por cientistas do mundo todo.
   O meu perfil de paciente se enquadra no modelo definido como ideal para testar novas terapias. Quero ser cobaia. Fico incomodado de saber que esse bicho ainda está andando pelo meu corpo e, principalmente, ameaçando o meu fígado...que tanto prezo.

   Futuro maravilhoso
   Outro dia escutei do meu amigo Orlando, no terceiro tratamento:
- Canga, o tratamento é sofrido, dolorido, cansativo, anêmico/depressivo...uma merda! Mas de tudo isso, tem uma coisa que é maravilhosa: o fim do tratamento! Quando acabam os remédios e cessam os efeitos colaterais, meu Deus! O mundo se transforma e a gente volta a perceber que a vida é maravilhosa, cheia de energia e força, é a supremacia do bem estar!

   É atrás desta cenoura que estou correndo agora! 
   Quero a minha vida de volta!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A sorte de pegar uma Hepatite C


   Sempre fui de ver o lado positivo das coisas. O mais bonito, o melhor. Ficar produzindo energia negativa, acumulando rancores, ódios, medos e outros maus sentimentos só nos detonam, nos colocam para baixo.
   Como diz o meu amigo Padilha, o mundo é mental! Se pensas positivamente terás resultados positivos! O contrário...é o contrário!
   Quando parei de beber, me preparando para iniciar o tratamento de combate ao Flavivírus, levantei o assunto com todos os amigos. Queria ouvir opiniões sobre a doença, sobre o tratamento e principalmente como eles encaravam uma enfermidade que ainda hoje, enfrenta muito preconceito social.
   Pesquisas revelam que um grande percentual de pessoas não conseguem matar o vírus porque sofrem preconceito, escondem a doença, se sentem discriminados, acabam ficando deprimidos e consequentemente com as defesas baixas. O organismo não reage aos medicamentos e aí...é "caixão pro Billy".
   Hapatite C mata mais que Aids. Aliás, Aids não mata mais, Hepatite C, mata! Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 3% da população, ou seja, mais de 170 milhões de indivíduos estão infectados pelo vírus da hepatite C. No Brasil, mais de 3 milhões de pessoas seriam portadores da doença. É silenciosa, assintomática e quando se manifesta já desenvolveu cirrose ou câncer no fígado.

   Bem, falava que sou de tirar leite de pedra quando se trata de ver algo de bom em uma tragédia. E aí está um exemplo. Com toda esta reviravolta que a minha vida deu em função da doença acabei descobrindo muitas coisas que não via antes. Amigos amigos, filhos maravilhosos, a presença constante da minha neta Luisa, uma companheira fantástica, cuidadosa, atenciosa, não moralista, perseverante e, principalmente, tolerante, pois também não sou dos mais fracos!
    Se nada disso houvesse acontecido, não teria descoberto esta vida que tenho agora. Não estaria me sentindo seguro, amado e forte por saber que não estou sozinho na parada.        Quando o meu amigo Dario de almeida Prado Jr., do alto da sua rica experiência no tratamento vitorioso de um câncer, me falou que seria uma ótima fase para refletir sobre a minha vida, eu, provavelmente já irritado com a abstinência da bebida, tomei a declaração do Dario como algo muito "cristão", como se eu tivesse que refletir sobre as cagadas que fiz na vida e todo aquele papo moralista de culpas e perdões que os pobres de espírito adotam quando levam uma ré.
    Nada disso! Agora entendo o refletir do Dario. Sem dúvida alguma que com uma total mudança de hábitos e comportamentos, um mundo diferente seria percebido pelos meus olhos e mente. E esse mundo é maravilhoso! Estou louco para curti-lo com uma tonturinha nas idéias. Deve ser mais maravilhoso ainda!
    O resultado disso tudo, de eu ter assumido publicamente a minha batalha contra a doença, abriu, no meu universo, uma via láctea de pessoas interagindo comigo, dizendo o que pensam, o que pensam de mim e como me vêem. E no momento que se revela este novo mundo, esta descoberta, mais uma vez eu tenho que me reinventar.
    E me reinvento!
    Sou outro, sou melhor!

Abaixo manifestações de amigos no FB:

Finalmente...uma boa notícia!

Queridos leitores,
aos que acompanham a minha batalha para vencer o Flavivírus, vírus da Hepatite C, tenho uma excelente notícia: ZEREI O BICHO!


   Meu último exame de contagem de replicação do vírus deu ZERO. Em três meses de tratamento consegui eliminar o bicho que estava comendo o meu fígado.
   Nos últimos tempos não tenho escrito muito no blog devido aos efeitos colaterais dos remédios que tomo. São 17 comprimidos diários de Ribavirina e Boceprevir (antiviral) e uma injeção semanal de Interferon. Estou a 9 meses sem tomar bebida acóolica. Uma merda!
   Bem, os devastadores efeitos colaterais destes remédios e a minha batalha para derrotar o vírus já descrevi aqui no blog. A náusea, dores no corpo, falta de concentração, irritabilidade e, principalmente, a depressão fizeram com que eu diminuisse consideralvelmente o meu ritmo de trabalho e minha produção jornalística.
   A maior batalha, sem dúvida, está sendo comigo mesmo. Conseguir racionalizar e separar os efeitos dos remédio da realidade é trabalho para mamute! Porém, tudo isso tem o seu lado positivo. Todo esse sofrimento, abstinências, falta de emoção, sensação de mundo acabado, acabou me revelando os melhores amigos e os que realmente se importam comigo.
   O impacto da notícia de que teria que fazer um tratamento urgente para Hepatite C - o bicho já havia necrosado parte do figueiredo - foi devastador. Foi aquela divisão na realidade. Tudo mudou a partir daí. Em primeiro lugar, a vida maravilhosa de festas, bebidas, nigths...enfim, a vida louca que adoro, foi para as cucuias.
   Tive que me enquadrar num modelito disciplinado que só de pensar me dava ojeriza. Me enquadrei! Li tudo a respeito da doença, do tratamento, das drogas químicas mais modernas e...fui à luta!
   Bem, parece que eu sou o cara, né! Não, eu sou apenas o objeto de uma situação maravilhosa que se criou a partir da trágica notícia da doença: a minha família reagiu em bloco, afetuosa e pró-ativa.
   Partimos unidos para a execução de um plano mortal contra o Flavivírus. Os cuidados com a minha alimentação, com os horários exatos de tomar os medicamentos e ouvidos disponíveis para ouvir minhas lamúrias fizeram com que ficássemos todos mais próximos.
   As relações entre nós, pais, filhos, irmãos e sobrinhos se estreitaram a passaram a ser uma prática diária na execução da estratégia mais apurada para resolver aquela situação.
   Foi perfeita! Deu Certo! Três meses de tratamento e conseguimos eliminar o Flavivírus do meu organismo. Tenho ainda mais três meses de tratamento, mas agora já sinto os efeitos colaterais mais amenos e até tiro um sarrinho deles, às vezes.
   O que poderia ter sido o momento mais terrível da minha vida acabou sendo o melhor já vivido até hoje. Por incrível que pareça, estou vivendo a melhor de todas as vidas. Na contabilidade de fim de ano, a Gisa, eu e nossos filhos realizamos tudo o que havíamos nos proposto. Desde vencer vestibular na Federal a formaturas e empreendimentos empresariais.
   Estou triste mas estou feliz! Muito feliz! Triste por conta dos remédios, da química que me deprime, me deixa paranóico e irritadiço. Mas já sei que esse não sou eu, são os remédios, então que se fodam! Dentro de três meses voltarei a ser eu mesmo. Alegre, otimista, emocional, amigo dos amigos e pronto para novas aventuras. Desse Canga, às vezes, chego a sentir saudades!

Crônicas e matérias sobre o combate à Hepatite C. Leia aqui!

*Parceiros fundamentais nesta luta: meu médico, Paulo Glavam, e toda a equipe do PAMMI do Hospital Nereu Ramos: Rochele, Magali, Poliane, Viviane, Taise, Andrea, Sheila e o Chico!

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Sartre, náusea e maconha

   Está sendo um dia difícil. Dores, depressão e a tal de náusea! Náusea é aquela sensação que te assalta de repente, depois de beber muito álcool, que embrulha o teu estômago e antecede o vômito! 
   
   A pior parte é quando a sensação de mal estar vai te invadindo e o racional constata que é uma viagem sem volta. Não adianta mais parar de beber. A náusea vai te ferrar até o vômito, se acontecer! Essa é a náusea consequente da bebida. Botar o bofes para fora sempre é uma solução. Ameniza o bédi!

   A náusea que sinto agora não tem a saída "dos bofes para fora". É consequente dos medicamentos que estou tomando para combater a Hepatite C. Principalmente do Boceprevir, antiviral recente, último grito da moda no combate ao flavivírus! Coisa fina!
Sinto uma sensação física muito ruim, acompanhada de uma saudades de um lugar que não conheço, quase uma depressão. Harrrg!

   Muitas pessoas que fizeram tratamento com Interferon e Ribavirina, e até pacientes de químioterapia, me aconselharam a usar maconha para amenizar os efeitos da química e principalmente para enfrentar a náusea.

   Tenho problemas com maconha. Nunca foi a minha praia. Experimentei, quando jovem, e nunca senti uma sensação legal. Na verdade me deixava sem memória, extremamente tanso, com sentimento de culpa e paranóico. Aí é complicado. Já estou debilitado, com anemia e energia baixa, se fumar unzinho é "caixão pro Billy".

   A maconha tem sido a droga preferencial de pacientes com câncer principalmente para conter a náusea. O "bagulho" trabalha nos receptores do cérebro e até retarda as contrações do estômago. O cara com náusea e vômito não deve ficar afim de uma medicação oral. Melhor, então, a maconha que ainda vem com um "barato" de brinde!

   O desconforto causado pela náusea não é somento físico, é metal também. Nada mais explicativo desta terrível sensação humana que "A Náusea", de Jean Paul Sartre. Roquentim, o personagem de Sartre, de repente é invadido por uma terrível sensação de repulsa ao ser humano e sua condição existencial. Invadido e dominado por um profundo nilismo, Roquentim embarca em viagens de alta profundidade intelectual e surge, então, um protagonista despadronizado e repelido pelas próprias contestações que faz a respeito da existência e sua falta de sentido, ou seja, a respeito da gratuidade e ilogicidade da existência, por si só desprovida de essência. Que loucura!!!!
   
    Trata-se, portanto, da saga de um personagem conturbado e por vezes beirando a loucura, tal é a nudez existencial a que ele se expõe. A náusea, enfim, é o ícone que melhor representa a loucura existencialista de Sartre.  

   Só fumando maconha para escrever esse monte de coisas sobre uma repentina vontade de vomitar!!!!!

domingo, 11 de novembro de 2012

Caros leitores,

Obrigado Millor...
   O blog perdeu um pouco da sua dinâmica habitual devido ao momento extemporâneo que vivo. Com a carga de remédios que tomo diariamente no combate à Hepatite C, fico lento fisíca e mentalmente, com pouca energia, dores pelo corpo e outros perrengues mais. De qualquer forma estou fazendo o possível para mantê-lo atualizado e para isso conto com o auxílio de colaboradores que enviam matérias, artigos e pautas.

   Manter uma atividade mental nesta fase do tratamento é algo penoso. A memória mesmo...essa me abandonou. Estava pensando em escrever sobre...sobre o que mesmo? É bem assim! Quando penso em pegar o lápis para anotar o que havia pensado esqueço o primeiro pensamento e fico com o lápis na mão sem pensamento para registrar! Um sarro!  Mas interessante como experiência...instantânea. Como experiência mesmo não serve para nada, afinal, não vou lembrar depois...

   Tenho ficado direto em casa. Tenho habeas para vagabundear! Como não sou funcionário público e nem mesmo tenho emprego, não necessito nem de falsos atestados médicos para viver o ócio!

   Como disse o amigo Dario esta manhã: - Canga, agora é: em primeiro lugar Eu, em segundo Eu e em tereceiro Eu!
   Então tá! Procuro viver um dia de cada vez sem projeções preocupativas. O futuro? O futuro é depois! Já cheguei nele tantas vezes nesta vida. Já realizei tantas projeções futurísticas que tenho o direito de passar em branco essa parte do presente!

Bad Trip
Lerica: expoente undergroud italiano
   Pensar, analisar e tentar entender os efeitos dos remédios no meu cérebro também dá trabalho. Tudo cansa...agora!
   Na verdade é tudo droga! Os efeitos produzidos pelos remédios na minha cabeça se assemelham muito aos efeitos das drogas (in)comuns, pelo que tenho percebido... na literatura médica. Só que é uma viagem ruim, uma viagem depressiva, com confusão mental, um pouco de pânico e outros bad's mais. Tenho me esforçado para reverter esse quadro. Já que é viagem, que seja à favor, que me de prazer. "Difícil para aquárius!"

   Pensei formas e técnicas de viajar "legal" com as pancadas que recebo na cabeça cada vez que tomo uma carga de química em cápsulas...não consigo. Acho que o agente de ligação que transformaria uma bad trip em uma viagem legal é outra droga: o álcool! Daí é caixão pro Billy! Não posso nem passar perto...por enquanto!

   Ontem recebi um notícia boa. A minha carga viral baixou de 1,3 milhões para 400 mil. Ou seja, o flavivírus está se replicando menos, está sentido "a força do carvão de pedra", como diria o guarda Rubim. Essa queda se deu apenas com o uso do Interferon e da Ribavirina. Sexta-feira passada comecei com o antiviral Boceprevir, a droga do momento. Essa ataca o bicho direto. Vai lá no DNA do cara. Espero que na próxima medição já esteja zerada a replicação. Quem viver verá!

  Então, amigos, esta é a questão! Tenho tido dificuldade de produzir intelectualmente, de pensar, criar...além de sentir os efeitos físicos do lance. Isso tudo me leva ao profundo e dolorido pensamento do mestre Millor Fernandes com uma faca enfiada na cabeça: - só dói quando penso!

domingo, 4 de novembro de 2012

Boceprevir e cerveja sem álcool: novas emoções!


Pior que os efeitos colaterais dos remédios para curar a Hepatite C é uma cerveja sem álcool quente!!!!!!! 

   Comecei hoje uma nova etapa do combate ao vírus da Hepatite C. Entro na quinta semana do tratamento (agora só faltam 20 semanas...hummm), e começo a tomar o Boceprevir, um antiviral que ataca diretamente o Flavivíru.

   A briga é boa! Todos aqueles efeitos colaterais desagradáveis que eu sentia com os remédios anteriores, Interferon e Ribavirina, agora sinto em dobro, com um diferencial: a náusea! Maior barato!

   Esses medicamentos todos tem a depressão e o desânimo com efeitos colaterais. A anemia profunda que começa agora, me acompanhará por todo o tratamento. É uma anemia medicamentosa. As hemácias que transportam o axigênio pelo sangue também transportam o Boceprevir. Os dois brigam e acabam matando as hemácias. Simples assim!

   Por incrível que pareça quanto mais profunda a anemia maior o indicativo de cura da doença. É o tal ter que morrer para nascer de novo! Então tá!!!!!

   É importante ter conciência de que me sinto assim por que os remédios agem no meu sistema nervoso central. Então eu sei que tudo isso é dos remédios e não da minha cabeça, afinal sou uma pessoa alegre e extremamente otimista!

   Mas que tá tudo uma merda, ah! Isso está!!!! O mundo deve acabar por esses dias!!!!

Cervejas
   Tenho estudado com afinco o efeito, ou o não efeito, das cervejas sem álcool na cabeça de um bom ex-bebedor.   Experimento nacionais e importadas. Tenho ganhado muitos presentes de amigos. Outro dia, o amigo Marcelo ligou e disse que para eu passar no shopping Beira Mar para pegar uma caixa de Schneider Weisse que havia deixado comprada lá.

   A Schneider Weisse Tap 3 é uma delícia de cerveja de trigo, sem álcool, não é filtrada nem pasteurizada. Tem um gosto forte de caramelo. É boa depois de um exercício, bem gelada. Efervescente quando toca a língua e harmoniosa no final. Mas é para tomar duas garrafas no máximo.


   A Erdinger Weissbier Alkoholfrei é uma das melhores. Tem um creme denso e consistente. Malteada e com um amargor que equilibra bem o conjunto. Suave, mas sem lúpulo e principalmente sem trigo. Mesmo assim, de todas, acho que é a melhor...no momento!

   Das nacionais já passei por todas. A Opa, de Joinville, é boa...para tomar duas. As mais comuns de se encontrar no mercado são a Liber (Brahma), a Schin e a Bavária sem álcool. Por incrível que pareça, a Schin, sem álcool, é das melhores. Com álcool é intragável! É uma cerveja um pouco doce com um finalzinho amargo, aquele que se sente no fim da garganta. Tem um creme branco denso. De lúpulo?...nem lembrança.

   A Bavária é braba! Sem creme, quase sem sabor algum, aroma de ferrugem e como diria um amigo meu, mais conhecedor que eu: - tem uma levíssima sugestão de cereais não malteados, com retrogosto de xarope de criança...Affe!!!!


   Ontem, porém, tive uma grata surpresa. Descobri a Itaipava sem álcool. Gostei bastante. Mas como o meu paladar vai mudando, ou desaparecendo, com o efeito dos remédios, vou experimentando, gostando e desgostando das cervejas o tempo todo. Da maioria acabo enjoando.

   É o caso da Liber, da Brahma, a sem álcool mais comum nos supermercados. É leve com um sabor de fruta passada. Não tem lúpulo e o malte, quando se percebe, entra com sabor pouco agradável. Enjoativa!

Bem, a oferta de cerveja sem álcool nos bares é um problema. Quando tem, está quente! Ninguém leva a sério um ex-bom bebedor de cerveja.

   Pior que os efeitos colaterais dos remédios para curar a Hepatite C é uma cerveja SEM ÁCOOL E QUENTE!!!!!!!

   Aí é fim de carreira!!!!!